domingo, 18 de maio de 2008

Sábados

Viva a alegria de ter
Em todo sábado que ansias
A certeza de um colo
Um afago

Viva a beleza de ser
Em todo sábado que te chega
A figura de um sonho
Um lago

Te livre o tempo de chegar aos sábados
Estes comuns sábados que me chegam agora
Cheios de nada

E farás de ti e de quem tu és
A soma de sábados felizes de memória
Envoltos em alegrias e sonhos

terça-feira, 13 de maio de 2008

Dissimulação

- Trapaceie para vencer! Dissimulação! Isto é mais um caso para a dissimulação! Trambicagem, enganação, ludibriação, trapaça mesmo. Quase como sempre. Entendeu?
Disse assim de pronto, como natural fosse responder a um menino de oito anos que ele vai morrer, dificilmente vai ser feliz e que vai ser enganado quase que permanentemente, principalmente por ele mesmo. E a dúvida nem era para tanto visto querer saber o incauto menino como se obtém sucesso. Pai frustrado é uma bosta!
- Mas é preciso saber enganar, afinal o mundo é dos espertos, e se você for muito inteligente, muitos não se deixarão enganar, afinal a maioria é burra e pode não entender o que você está tentando parecer ou querer. Entendeu?
- Não.
- Não. Ótimo!
- Pai, você é meio esquisito. Você é um trambiqueiro? Engana as pessoas?
- É o que eu to tentando fazer agora com você? Se der certo você vai ter aumentadas as tuas chances de viver melhor. Entendeu?
- Não.
- Não. Ótimo!
- Quem vai ser o campeão da copa?
- Quem enganar melhor!
- Pai, não é por acaso quem jogar melhor?
- Não.
- Não????? Ótimo.... agora é que eu não entendo nada... mesmo...
- Ótimo.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

O auge da culinária

O auge da culinária comentada pelo nosso grupo de amigos pouco foi apreciada na mesa.
A condição de experimentar pratos saborosos e famosos inclui o acesso a esses pratos. Diante do rebusque exigido na preparação do palato para se chegar ao condicionamento do cérebro que reconhece nuances de vários alimentos, a operação de comentar qualidades de formas várias de gostos começou a me parecer mais exercício dialético ou de pesquisa literária do que de prova.
Ouço cada vez mais, da boca de verdadeiros entendidos, indicações de cakes divinos, donnut's irresistíveis. O desfile de terminologias diferentes para coisas conhecidas permeia conversas no, calculo, afã de repartir conhecimento...
Fui presenteado com um molho de pimenta. Pimentas vermelhas, colhidas a mão, envelhecidas em barricas de carvalho. O tal molho tem um nome de fábrica, nome de produto. Ainda assim, ressalvada a alta qualidade, é um molho de pimenta. Mas é só cair na mesa e os interessados ao pedirem o seu alcance, tratam-no pelo nome de fábrica. Porque não pelo que é, molho de pimenta. E não temos em casa vários molhos de pimenta para que se destaque um.
Alguns dias depois recebi de presente uma especiaria dentro de um vidrinho. A erva principal embebida no óleo é o basílico. Fiquei mais empavonado que já sou. Uma erva fina, diferente e incomum para o meu meio. A desilusão veio num programa que trata de culinária, quando assisti pela televisão, em um meio de comunicação de massa, a destruição de minha distinção como possuidor de basílico; a ilustre apresentadora disse que tal erva é o nosso manjericão. Manjericão. Isto tem no pátio de casa!
Noutro dia estávamos reunidos e surgiu o churrasco na bola da vez. Um amigo comprou duas ou três peças de costela. Carne boa, fogo bom, e um bom assador, modéstia à parte, garantiram um bom almoço. No meio da tarde perguntaram que pedaço da costela era aquele.
Polêmica à vista. Didaticamente indiquei com as mãos em meu corpo onde se localizava no boi aquela parte da costela. O ato surtiu um efeito interessante. Uma amiga presente disse ser meio estranho, quase mórbido fazer aquela indicação.
O que assustou na ação foi a ligação do pedaço de carne, que todos comeram, com um animal vivo, que no caso era eu.
A partir daí conversamos sobre vários animais, como abatê-los, como recortá-los. Um ato que pela maioria foi compreendido como violento, brutal e desumano.
Ninguém deixou de comer carne assada no dia seguinte.

Inerências retóricas

escrito e dinâmico * A razão é a busca dela. Está sempre entre seu impulso e sua descoberta. ..............................