sexta-feira, 31 de maio de 2013

Quando a vida acelera

contou mais um dia hoje
conta o ano próximo
soma a idade nova
vinte e sete será vinte e oito
vai de perto ver o ano que vem
deixa para trás o ano que é hoje
pensa
calcula o que está suspenso
retorna ao que sonhou
movimenta o corpo frenética
quer retroceder o dia que contou hoje
faz do que ainda não veio algo que possa ser já
um passado
afinal
que velocidade é esta?
é você quem anda depressa
ou serei eu a perder o teu tempo?

(já publicado como: !aniversários por hora?)

terça-feira, 28 de maio de 2013

as verdades no além das minhas

Há muito mais do que poderia imaginar
em viver.
E passa a manhã e passa a tarde e passa a noite e soma tudo
e houve mais do que imaginava.

Imagens, muitas.

Todo ontem que chega tem sido assim.Traz desconforto e também curiosidade
do que não virá.
Incógnitas às vezes parecem certezas, mas geralmente são dúvidas mesmo
e elas são mais do que consigo responder.

Palavras, muitas.

Paradoxal é sentir que dar o benefício da dúvida ao futuro traz mais tranquilidade
no passado.
Pensamentos, é este o avolumado que surge
nestes intervalos.

Ideias, poucas.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Triste paradigma.

Mesmo diariamente mais calejado me assombro, também diariamente, com o poder que o conceito abstrato de possuir coisas tem. Realizar a vida passou a ser, acredito que depois da obsolescência programada criada pelos americanos, um simples cálculo financeiro em que está realizado apenas aquele que juntou e descartou mais coisas do que a média. E apenas é isso, um cálculo que descarta como  realizado quem consumiu na média ou abaixo dela. Ultimamente agravamos isso, pois agora mesmo que alguém tenha feito isto a vida toda, se ao final dela já não tem ou perdeu o estímulo do simples juntar e descartar, não apenas está, mas é um fracassado.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sociedade e hipocrisia, quando uma largará a mão da outra?

Publicado em 23/5, editei o artigo em 15 de Junho.
O Brasil resolveu endurecer o combate aos viciados. Sim, aos dependentes. Os traficantes obviamente sempre existiram e provavelmente sempre existirão, é uma questão de demanda, o ser humano sempre forneceu demanda, provavelmente sempre demandará. Mas o Brasil -você, eu, papai, mamãe, tua tia aí do lado- resolveu estampar uma bandeira longa como uma faixa, onde se lê: Sou hipócrita e burro ao mesmo tempo, não quero pensar, apenas enfio minha cabeça na toca e tudo parece bem.
Enquanto o Brasil -nós- endurece o combate às drogas que consideramos ilegais a cerveja será vendida dentro de estádios e a seleção brasileira de futebol será uma representante da ganância sobrepujando a inteligência.
No que se refere ao transporte 'coletivo'. É uma grande vergonha cobrar de alguém para que o indivíduo vá até um lugar servir um babaca que enche o rabo de dinheiro sem se importar com quem o sustenta. Se você é empresário, toma vergonha, se reúne com o povo que te sustenta trabalhando diariamente na empresa e cobra do governo melhora e isenção no transporte público. Se o governo não vê isso, é porque o empresário é conivente. Afinal meu caro, ser empresário é primeiro ser uma ponte entre uma necessidade e uma solução, mexe essa bunda.
A vida anda assim, talvez como desde sempre, só que agora os bois tem nome e as coisas também, não dá mais pra fazer de conta que está bem. Senadores e Deputados obviamente são patrocinados demais para mudar esse rumo, defendem ideias afastadas do bem comum. Ao que parece o poder judiciário brasileiro julga por semântica, se o indivíduo ou empresa tem dinheiro, consegue escapar na base do 'mas o que eu quis dizer é outra coisa...' e as coisas se resolvem. No executivo precisaríamos contratar mais profissionais do que amigos e parentes para fazer as coisas de forma mais -sendo redundante- profissionais. A presidenta Dilma, chefe executiva da nação, tem poder para desfazer isso, mas não creio que ela tenha levado consigo nem inteligência nem coragem para tanto.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Minha solidez é líquida


olhei uma foto
uma exclamação
o mar eu vi


tempo de reiterar a escolha
manter meus sonhos junto ao corpo


sonhei um verão
um banho
a praia imaginei


fazer deste querer o litoral
meu modo na existência


senti a água
a respiração
o toque de voltar


minha solidez é líquida
meu repouso é Atlântico


sábado, 18 de maio de 2013

Carroceiro estivador - No mundo das coisas

Meu problema é juntar coisas. Vivo a juntar mais do que de fato quero, desejo. Junto coisas, um catador de memórias provido de seu infinito rascunho e um oceano de tinta para canetas. E atulhado de coisas já não me vejo, nem ademais me reconheço. Junto inúmeras coisas. Depois jogo fora.
Muito mais do que havia é o que vai. As coisas jogadas fora, em cada novo agora, sempre parecem menos do que tudo que foi fora. Falta razão em pensar assim, mas esse é um sentimento e como tal só faz sentido desprovido de lógica. Fica pálido de sentidos o campo que estava cheio, nem força tem para ser árido. Deixei vazio. 
Mas a vida me revela. Silente e fria no seu impassivo propósito de me refazer, a vida limpa a superfície do espelho que leva para o fundo do casulo onde estou. Dona de si, portanto diferente de mim, redesenha meu destino a seu tempo, seja um dia, hora, ano. Sem as coisas que havia juntado e jogado fora penso ser aquele que é sem espaço para coisas juntadas. Mas a vida persiste e me desengana, abre espaços. Pois é sempre esse sempre, quando estou vazio retorno a mim mesmo. Junto coisas.

domingo, 12 de maio de 2013

Desentraves - Resumo e Discuso


  • Resumo

Arrumei a janela do quarto. Já deixava sempre aberta. Fechar era fácil. Enroscava para abrir. Todos os dias a mesma chatice. Praguejei o trilho. Está arrumada. Desmontei e apertei um parafuso. Ele descia e travava a roldana. Ficou quase perfeita. Deixei aberta. Em breve precisaria mexer lá. Choveu. Pude fechar sem medo. Quando quiser abro. Estou livre.


  • Discurso

Choveu muito, mesmo demais, chuva a sério, acredite. Chuva dessas de verão que quando começam passam rápido e molham muito. Essa era uma chuva de verão com crise de identidade, demorou a passar, achava que era de inverno. Mas só no tempo, na intensidade muita água, de verão mesmo.E a janela lá,  aberta. Eu nunca tive problemas com essa janela, meu desamor era com o trilho, sempre culpei o trilho. Olhava para ele e desfazia até o jeito que fizeram a janela, não pela janela, pelo trilho.
Sempre que acontecia isso, a chuva, se era dessas que pensam que são inverno sendo verão, pior se houvesse vento porque sem vento eu nem iria, se eu lembrasse é claro, corria para fechar a janela. Ela fechava. Assim, era feliz com chuva e frio, porque a janela fechava. Mas quando parava a chuva e voltava o calor... abrir a janela, ela não queria, ou não conseguia. Boa janela, mas o trilho, enroscava, sempre enroscava. Às vezes travava a janela a meio caminho, ficava atravessada, nem ia nem vinha. Prensada entre a parte superior do quadro e ele, o trilho, o traste do trilho.
Suor de molhar a ribana da gola da camiseta. Desmontei a janela, só para ver o trilho, que emperrava e eu não via o porque de um trilho que não passava de um perfil de alumínio quadrado sem arestas, emperrar. A meio caminho já nem queria mais ver o trilho, pensava em outro, comprar outro, fazer outro, criar outro, solicitar uma pesquisa endoutorada da universidade para encontrar o paradoxo do trilho que não serve para trilhar. Quase cai um parafuso, não do trilho, mas dos fixadores da roldana, do quadro de vidro da janela, que corre sobre o trilho. Ele descia e enroscava no agora inocente e antes infernal trilho.
Agora se chove fecho e se o sol aquece, abro. Saindo do trilho fiquei livre.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Ignorância acadêmica

Conheço inúmeras pessoas com bastante conhecimento, diz-se delas que são cultas. Conheço muitas pessoas que falam pobrema. Conheço poucas pessoas cultas com alguma sabedoria. A ignorância, por outro lado, também não produz muito mais do que dificuldades em nos compreendermos.

Dizer prástico não causa pobremas maiores do que dificuldades na compreensão. O culto compreende uma frase quando ela possui um pobrema inserido. Assim como um ignorante compreende uma frase culta quando ela não está carregada de verborragia ou falso saber.

Transmitir o conhecimento, repartir, é um passo que deveria ser natural no caminho do avanço e do saber. A Academia se julga sabedora, infelizmente me parece, cada vez mais e apenas, conhecedora e compiladora verborrágica. A minha alegria é enxergar pessoas que falam que o pobrema não se resolve quando aprendemos a falar problema, mas sim quando deixamos de causá-los, aprendemos a interpretá-los, agimos para resolvê-los ou ultrapassá-los sem deixar que seus rastros sejam uma maldita herança. Qualquer ignorante pode ter essa sabedoria.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Intervalos - 2


A cada espaço que se cria, e digo cria-se a si mesmo, penso que o preenchimento é o passo natural.

Quase nunca haverá mais do que uma vírgula necessária para preencher novos espaços.

O vazio parece ser o complemento que mais preenche.

Aqui está uma vírgula.

Inerências retóricas

escrito e dinâmico * A razão é a busca dela. Está sempre entre seu impulso e sua descoberta. ..............................