quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Um dia desigual aos outros

A praça tem sombra e bancos. É pequena. Parece com outras pequenas praças. Tem calçada e folhas espalhadas. Há um bosque perto dela. Nisto difere de muitas. É o lugar que parei porque passava.
Não são todas a minhas manhãs testemunhas de reflexões sobre o tempo passado. Poucas delas dedicam a primeira caminhada do dia para avaliações do que foi. Algumas manhãs conseguem se fazer um pouco humanas. Esta terça-feira chamou a memória para conversar sobre um ano. E foi sobre o ano este que daqui para um dia a mais se acaba. Quase quatrocentos dias pra fazer o ano cheio! Com tanto para contar, se fosse possível fazer dos dias as espigas, poderia dizer que 'é dia pra encher panelas e panelas'. E estas espigas tem todas, neste ano, grãos cheios como minutos preenchidos por vivência. Com o trabalho incessante do relógio temos logo horas e semanas feitas em carreira. Talvez seja preciso imaginar o ano enchendo balaios.
Tenho anos para esquecer. Se não esqueço o que sucedeu nestes anos pelo menos faço de conta que não localizo os fatos na memória por falta de informações. Tento enganar meu cérebro arquivando memórias com data falsa ou ano apagado. Os últimos doze meses poderiam construir um carrossel de horrores onde sentado ao lado eu me faria caras de piedade. Um ano que não foi brindado com nenhum jardim se abrindo ao meu convívio. Tempos de existência posta à prova e resistência vencida. Dos tantos que vivi, descontados os primeiros que me fogem até de vagas lembranças, este foi sem dúvidas o mais intenso e difícil.
Disse que nem todas minhas manhãs se voltam ao passado, porém desta vez, deste tempo, a manhã acordou meus arquivos incessantemente. Não houve um dia sequer em que uma lembrança específica tenha feito esquiva dos olhos da minha alma. Houveram todos os dias para encontrar em mim a fonte para minha vida. Existi um passo atrás da minha existência, obrservando os passos que dava e atrasando passos que por fim não dei.
Quebro com este relatório sem técnica específica para Balanço Pessoal o uso comum dos dias próximos ao meu aniversário e que comumente são usados para fazer o Meu Balanço. Desta feita quebro também o anonimato dos meus balanços. São manias sem conserto. Dou tantos palpites que muito do tempo interrogo se faço assim por razão se dando voz, ou se assim o faço por ter ouvidos bons aos próprios pitacos. Ora pois, intuição ou vaidade na tração destas palavras de bem ditas ou de fraca escrita ficam pra outro momento. Preciso cuidar a tendência retórica per si. Por hora fica o fato de fazer a declaração sem tempo de pitaquear ou arrazoar. O resultado é não haver, no ano que por um ano será o ano passado, um quadro sintético ou um momento fechado em si com força suficiente para resumir os quase quatrocentos dias sobrevividos.
Falta pouco rodar nos ponteiros até a meia-noite e eu não havia me precavido para pensar alto. Quero dizer pensar escrito. Para pensar alto é só gritar.

sábado, 27 de dezembro de 2008

ciclo completo e água no máximo = contemplação e alegria

adoro máquinas de lavar. perfeitas alvejadoras de alma e momento. destaque honoris causa para aquelas que lavam roupas. parabéns aos acrílicos menos que aos antigos vidros que me deram janelas para acompanhar o préstimo da tecnologia em pleno movimento e que são mais resistentes a opacidade herdada no tempo.
talvez esta lúgubre faina de fazer um trabalho sem quase nada pelas mãos ser feito acalme meu humano poder de destituir de labuta quem nela se encontre sobrevivente. pode também que ali se apresente um tanto da minh'alma a sentir sua existência massageada no falacioso desimpregnar-se do pó que a estrada de viver impõem.
uma rotatória caminhada faz o tecido cheio de recortes e emendas. ele que me revestia a pele e agora se entrega ao bater que não dói da persistente mecânica. um rotativo olhar segue a água a procura de vestígios de outra pele. a flexão imprópria de se ver um na máquina faz a soma para o seguimento no atenuante perceber que a repetição e a ciclicidade buscarão outras peças para enrolar mangas e colarinhos nesta ou noutra máquina unificadora de suores e dissipadora de manchas.
sonho que este constante bater um dia não signifique somente um tanto apanhar. creio que o esfrega compassado das pás que agitam minha cabeça junto com as roupas faz mais que aturdir minhas idéias. construo a cada lavagem a vontade de servir como camisa mais que ser servido como água de passagem.
por ser água o agente principal destas lavadeiras eu me sinto acolhido. se está longe de ser um ventre está perto de ser um dinâmico viver. só faltam as peças outras para que as peças minhas assanhem meus sonhos.

feira número quatro

seria óbvio se fosse? mas o falso da frase é que, o simples ser se acaso fosse, óbvio não se faria e o verso disto só viria a ser se a vontade verdadeira de ser não houvesse...
reflexão para um dia em que o sofá deveria ser o motivo de juntar. serve até que a vida empurre a filosofia pela chaminé em que papai noel não entra sem que seja noite.
que o óbvio seja.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

meuscremento

dentre os dias
alguns há
em que pensar
é um saco

sei tempos
como agora
em que falar
é um porre

entremeando guturalidades
parcimoniando textos
vai o porre para o saco

aproveitado o suntuoso oco
da cuca ressonante eco
e o cérebro seria uma tripa

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

a puta da labuta e a gerente da zona

Um dia o suor substituirá a inspiração e então os versos se farão cravejados de engodos e técnicas. Pingando e pintando em sangue sobre as lâminas de madeira, sem que o verso tenha forma no cérebro, é que se tem poesia. Isto de muito empenhar serviço pra juntar letras e rimar linguagem é para vagabundos assumidos que dificultam o livre nascer do verbo. Dificultada a regra da poesia e um tucho de apropriados da legislação poética vive do que outros inspiram.

Um dia a inspiração substituirá o suor e então as técnicas se farão cravejadas de versos e sonhos. Pingando e pintando em chumbo sobre folhas de papel, sem que o discurso tenha forma no peito, é que se tem um relatório. Isto de muito empenhar emoção para juntar dados e resumir informações é para burocratas egocêntricos que dificultam o livre nascer do conhecimento. Dificultada a regra da concatenação e um tucho de apropriados das técnicas vive do que outros resumem.

Dia algum haverá em que a puta seja a gerente e o verso idem.

Inerências retóricas

escrito e dinâmico * A razão é a busca dela. Está sempre entre seu impulso e sua descoberta. ..............................