Era quase diário absorver as últimas energias do sol frente ao mar aberto, perdendo-se em lembranças a serem construídas.
De tudo o que havia bebido até então, o que mais lhe embriagara foi o chimarrão. E sem ter base de comparação, provavelmente e de longe o maior alucinógeno existente. Em um mundo em que é fácil encontrar um senão, o chimarrão só não se auto-sustenta pela manufatura da erva. Em alguns casos até aí se auto-sustenta. No chiamarrear, a tontura ou embriaguez causada não traz a neblina para o olhar, traz antes a limpidez para a visão...
Num processo quase dogmático, conferir a cuia pela umidade, pois porongo molhado não dá bom mate. Separados os apetrechos que incluíam: A Bomba não cheia de enfeites nem construída de material inferior; a Térmica só para água quente, ainda que vez por outra guardasse algum chá; a Garrafa de bota com um dedo de aguardente, um maço de fumos, o acendedor, o celular pro acaso de ser solicitado e o bocó moderno com bolsos separados ajeitando o carregar; este último recebido de presente quando boa alma percebeu o enrosco de carga destas tralhas sem acomodação.
No entremeio de arrumos ficava a água ganhando temperatura, de forma lenta, fogo brando como se diz, com atenção ao chiar. A chaleira, na medida da térmica, foi regalo primeiro da passada nova morada e conduzia por vezes a água direito e à alma de um mate encilhado.
Este imperativo desfolhar de um momento íntimo é que desencadeou o comentário ulterior de um observador quase íntimo. É que tempos passados sem o rito, num encontro fortuito, reavivou-se na memória todo o desenrolar ritual.
Pelos re-arranjos da vida, o cidadão mateador já não mais se punha de pés na areia a sorver seu chá campeiro.
- Nunca mais te vi no teu banquinho.
- Foi a vida.
- O banquinho ainda está lá.
- Guerreiro.
- Tiraram o encosto. Algum espírito de porco deve ter consumido a madeira pra alguma fogueirinha. Tem gente que não pensa.
- Mas o banco ainda é o mesmo.
- Firme.
- Na areia...
Neste dia não houve rito de contemplação. Às vezes a filosofia perde-se na retórica.
Aqui está o tergiversar ininterrupto que os intervalos empurram dos meus silêncios para este caderno não-papel.
sábado, 8 de março de 2008
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Inerências retóricas
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