sábado, 8 de março de 2008

Nas cinzas

Aaaaaaahhhhhhh desespero que me come por dentro...
Que me traz escolhas de fuga, saída, ex-controle
Que me busca a retirar entranhas
Que me afasta

Podre pedaço pênsil
Não liga
Não une
Não traz
Não leva

Aaaaaaahhhhhhh desespero que me preenche...
Que me sublima sonhos
Que me intenta loucuras
Que me remete

Velha vida vala
Religa
Reúne
Repuxa
Reenvia

Morre mais uma vez
Prima parte todo
Do Eu
Doeu!

Banquinhos e rituais

Era quase diário absorver as últimas energias do sol frente ao mar aberto, perdendo-se em lembranças a serem construídas.
De tudo o que havia bebido até então, o que mais lhe embriagara foi o chimarrão. E sem ter base de comparação, provavelmente e de longe o maior alucinógeno existente. Em um mundo em que é fácil encontrar um senão, o chimarrão só não se auto-sustenta pela manufatura da erva. Em alguns casos até aí se auto-sustenta. No chiamarrear, a tontura ou embriaguez causada não traz a neblina para o olhar, traz antes a limpidez para a visão...
Num processo quase dogmático, conferir a cuia pela umidade, pois porongo molhado não dá bom mate. Separados os apetrechos que incluíam: A Bomba não cheia de enfeites nem construída de material inferior; a Térmica só para água quente, ainda que vez por outra guardasse algum chá; a Garrafa de bota com um dedo de aguardente, um maço de fumos, o acendedor, o celular pro acaso de ser solicitado e o bocó moderno com bolsos separados ajeitando o carregar; este último recebido de presente quando boa alma percebeu o enrosco de carga destas tralhas sem acomodação.
No entremeio de arrumos ficava a água ganhando temperatura, de forma lenta, fogo brando como se diz, com atenção ao chiar. A chaleira, na medida da térmica, foi regalo primeiro da passada nova morada e conduzia por vezes a água direito e à alma de um mate encilhado.
Este imperativo desfolhar de um momento íntimo é que desencadeou o comentário ulterior de um observador quase íntimo. É que tempos passados sem o rito, num encontro fortuito, reavivou-se na memória todo o desenrolar ritual.
Pelos re-arranjos da vida, o cidadão mateador já não mais se punha de pés na areia a sorver seu chá campeiro.
- Nunca mais te vi no teu banquinho.
- Foi a vida.
- O banquinho ainda está lá.
- Guerreiro.
- Tiraram o encosto. Algum espírito de porco deve ter consumido a madeira pra alguma fogueirinha. Tem gente que não pensa.
- Mas o banco ainda é o mesmo.
- Firme.
- Na areia...
Neste dia não houve rito de contemplação. Às vezes a filosofia perde-se na retórica.

Inerências retóricas

escrito e dinâmico * A razão é a busca dela. Está sempre entre seu impulso e sua descoberta. ..............................