Parecia apenas uma atitude non sense usar tanto a minha pá, valer-se da existência dela e alternar sua valia como se ela nada fosse. Espreitei muitas vezes aquelas chegadas disfarçadas dos que se pintavam como quem estava passando. Já sem pedir vinham, pegavam, usavam e nem limpavam. Tantas vezes largaram por qualquer lado, atiraram de um jeito qualquer e usaram sem pudor. Fizeram porque dei aceite dos momentos ímpares, por saber que lhes via graça, por querer lhes ver sem encalhes.
O uso das coisas lhes dá vida e alimenta a vontade de cuidar, mas vai dia trás um d’outro e há abuso que cansa; como este de deixar a ferramenta pronta a qualquer hora. Haveria, talvez, de receber alguma atenção para animar a manutenção das ferramentas. É dura a prontidão que demanda permanecer atento nas horas todas sem descanso da vista ou desvio da atenção quando é unilateral a valorização.
Bom tempo em que não pedi moedas como aluguel e segui sem reclames da partilha vendo poesia em poder auxiliar na empreita no esperançoso sentido de ser útil e não uso. Mas agora guardo a pá pronta para mim. Quando alguém encalhar no caminho que me peça. Não faço mais oferta antecipada. Guardei no paiol. Acho que peguei gosto e valor na ferramenta.
Se houver quem se deixe perceber que respeitar limitações é uma boa vênia, talvez enxergue valor na compreensão de receber sem exaurir. É a menor distância entre minha mão e a chave do paiol.