segunda-feira, 29 de junho de 2009

Está guardada no paiol

Parecia apenas uma atitude non sense usar tanto a minha pá, valer-se da existência dela e alternar sua valia como se ela nada fosse. Espreitei muitas vezes aquelas chegadas disfarçadas dos que se pintavam como quem estava passando. Já sem pedir vinham, pegavam, usavam e nem limpavam. Tantas vezes largaram por qualquer lado, atiraram de um jeito qualquer e usaram sem pudor. Fizeram porque dei aceite dos momentos ímpares, por saber que lhes via graça, por querer lhes ver sem encalhes.

O uso das coisas lhes dá vida e alimenta a vontade de cuidar, mas vai dia trás um d’outro e há abuso que cansa; como este de deixar a ferramenta pronta a qualquer hora. Haveria, talvez, de receber alguma atenção para animar a manutenção das ferramentas. É dura a prontidão que demanda permanecer atento nas horas todas sem descanso da vista ou desvio da atenção quando é unilateral a valorização.

Bom tempo em que não pedi moedas como aluguel e segui sem reclames da partilha vendo poesia em poder auxiliar na empreita no esperançoso sentido de ser útil e não uso. Mas agora guardo a pá pronta para mim. Quando alguém encalhar no caminho que me peça. Não faço mais oferta antecipada. Guardei no paiol. Acho que peguei gosto e valor na ferramenta.

Se houver quem se deixe perceber que respeitar limitações é uma boa vênia, talvez enxergue valor na compreensão de receber sem exaurir. É a menor distância entre minha mão e a chave do paiol.

Moedas estrangeiras

Passei bons dias sem me passar nada. Moedas estrangeiras nos seus devidos lugares propiciaram estas minhas férias.

Quando penso no que ouço ou vejo, sinto dor. Minha cabeça que fora acostumada e treinada para enxergar movimento, pujança, avanço ou até desenvolvimento faz das tripas o coração para encontrar o que procura. Porém este meu coração idelizador de estados perfeitos insiste que nada avançou na economia. De fato nada que represente algum adianto de uma casta que soma mais indíviduos porém menos cédulas. Os de menos dinheiro parecem insistir em devolver os trocados que ganham para os que não precisam deles. E esses não precisam nem dos trocados nem dos que se amarrotam por eles.

Moedas estrangeiras são passionais e mudam sempre do mesmo jeito. Gosto delas. Facilitam as férias da mente.

Guardar armas

Fazia as vontades das suas fraquezas, despejando muito suor e muita imagem a cada feito. Corria entre os dias levando ao peito o distintivo da fome de quem quer tudo o que vê. Apresentava-se aureolada com a impassividade de quem crê lutar pelo que vai transformar o cosmo. Era uma pessoa comum.

Agarrado ao seu calcanhar, dando pouco vulto da presença, seguia com ela um monstro. E ele crescia com o sangue que lhe sugava. As armas do predador eram aquelas que a presa utilizava para seus intentos, sem saber ao certo de onde vinham.

Quando a vítima se propunha arrancar o monstro de seu calcanhar, usava das ferramentas criadas por ele. Assim é que ele crescia, pois seu desenvolvimento carecia de importância. Quando esquecia do que lhe era externo e lembrava-se de respirar, suas forças pareciam infinitas e as do algoz sucumbiam.

Vida difícil para quem ao se debater alimenta o monstro que o devora. Vida tensa para quem assiste.

domingo, 7 de junho de 2009

Terceiro tempo

Gostei de ver o desespero velado para largarem a teta.

Quando os cães eram pequeninos, agarravam-se à teta desta grande cadela quase infinita de leite. E bebiam com tanto medo de que a teta secasse que quase mataram a cadela com as feridas que lhe faziam a cada mordida impiedosa.

Da outra vez que vieram mamar, perceberam que não era preciso pressa. Havia e há muito leite, desde que a cadela seja mantida viva. E então pensaram que poderiam atá-la no pátio das suas casas para mamar sempre que quisessem.

Alguns ainda crêem que é possível ficar eternamente agarrado à teta. Mas os que mamaram mais, os que já estão mais fortes, estes perceberam que é perigoso adonar-se eternamente do leite. Mamar em demasia deixa o cão gordo e preguiçoso, um prato cheio para cães famintos.

Inerências retóricas

escrito e dinâmico * A razão é a busca dela. Está sempre entre seu impulso e sua descoberta. ..............................